terça-feira, 8 de setembro de 2009

Noturno - Ariano Suassuna


Noturno


Têm para mim Chamados de outro mundoas

Noites perigosas e queimadas,quando a Lua aparece mais vermelha

São turvos sonhos, Mágoas proibidas,

são Ouropéis antigos e fantasmas

que, nesse Mundo vivo e mais ardente

consumam tudo o que desejo Aqui.


Será que mais Alguém vê e escuta?


Sinto o roçar das asas Amarelas

e escuto essas Canções encantatórias

que tento, em vão, de mim desapossar.


Diluídos na velha Luz da lua,

a Quem dirigem seus terríveis cantos?


Pressinto um murmuroso esvoejar:

passaram-me por cima da cabeça

e, como um Halo escuso, te envolveram.

Eis-te no fogo, como um Fruto ardente,

a ventania me agitando em torno

esse cheiro que sai de teus cabelos.


Que vale a natureza sem teus Olhos,

ó Aquela por quem meu Sangue pulsa?


Da terra sai um cheiro bom de vida

e nossos pés a Ela estão ligados.

Deixa que teu cabelo, solto ao vento,

abrase fundamente as minhas mão...


Mas, não: a luz Escura inda te envolve,

o vento encrespa as Águas dos dois rios

e continua a ronda, o Som do fogo.


Ó meu amor, por que te ligo à Morte?



* Para mim é um poema sutilmente romântico. É como se o eu-lírico realmente enchergasse (ou lembrasse) a mulher que ele ama como um anjo, o chamando para ir com ela, mas ao mesmo tempo ele não quer ouvir o chamado, ele se sente muito preso às coisas da terra, à vida.